sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O Museu de Horrores da arquitetura paulista, por Andre Araujo


Que tal a abertura de um “MUSEU DOS HORRORES DA ARQUITETURA PAULISTA” ? Com fotos, maquetes e audio-visuais mostrando coisas pavorosas não só em construções populares mas em mansões nos Jardins que parecem bingos ou churrascarias. O mau gosto em São Paulo deveria ser matéria de tese de todas as Escolas de Arquitetura do mundo. Não há ideia da preservação da memória social da grande metropole, o mau gosto virou hobby.

Magnificos palacetes, expressões de épocas importantes da cidade, são arrasados em 48 horas para se criar no lugar verdadeiro lixo arquitetonio, grande parte assinados pelos mesmos arquitetos do estilo “bingo-churrascaria” e que circulam pelas colunas sociais. Todo mundo sabe quem são e me dá uma vontade enorme de fazer a lista.

Enquanto Buenos Aires (em primeirissimo lugar) e Rio de Janeiro tem vocação para restaurar e recuperar areas e edificios, por isso que são cidades bonitas, criando soluções magnificas como Puerto Madero (em BA), o bairro da Urca, uma joia arquitetonica, o lindo prédio da Sul América (anos 20) recem recuperado no centro do Rio, São Paulo simplesmente abandona seu patrimonio e suas areas e vai migrando, primeiro foi o Centro Velho abandonado, aonde prédios históricos como o do Banco Comercial do Estado de S.Paulo e do Banco Francês e Italiano foram transformados em algo parecido com fliperamas bancários, uma adaptação de interiores de extraordinário mau gosto, sem um centimetro recuperado da majestosa decoração anterior, dai migrou-se para o Centro Novo (Barão de Itapetininga), logo depois abandonado, depois Av. Paulista, que já entrou em fase de deterioração, depois Vila Olimpia, com pardieiros comerciais de aluminio e vidro em ruelas estreitas aonde haviam antes botecos e borracharias (alguns continuam lá), tudo sem nenhum sentido de planejamento, de urbanismo, de elementar gosto arquitetonico, tudo muito feio, depressivo, horroroso, sem plantas, sem cores, sem jardins, uma aula de mau urbanismo para o mundo inteiro ver, agora o novo centro da moda é Marginal do Rio Pinheiros, entre a Juscelino e a Nações Unidas, aonde uma arquitetura que nada tem a ver com Brasil, inspirada nos ventos gelados de Chicago, ergue predios de 40 andares que precisam de luz articial mesmo que fora haja sol a pino lá fora, que não tem qualquer sentido ecologico, miram pelas paredes de vidro o imundo Rio Pinheiros, existe cena mais dantesca? Emabixo não tem nada que relacione o prédio à cidade, a unica arvore que pode aparecer no saguão é a de Natal, ainda ssim artificial.

Colocar tudo isso a débito de uma elite paulistana que não tem qualquer interesse na cidade, que a deixa degradar, que prefere morar em condominios fechados a 30 kms a recuperar sua cidade.

São Paulo foi o berço da FAU, foi a terra de Ramos de Azevedo e de Prestes Maia, mas perdeu a noção de vida urbana. A Av.Tiradentes entra a Marginal e o Vale do Anhangabau parece bombardeada, Berlim em 1945, tudo deteriorado, lixo, buracos nas calçadas, prédios abandonados há décadas (o da Cia.Nacional de Tecidos, enorme, um escombro enegrecido e apodrecido), edificios de 30 andares, como o Brasilar, um São Vito comercial, não há interesse nem do poder publico (aonde está a EMURB?) e nem dos particulares que fazem a sujeira, do Anhangabu até o tunel Nove de Julho, tudo pichado e quebrado, abandono de pós guerra, começa a melhorar após o tunel.

A magnifica casa do ex-Governador Abreu Sodré na Rua Luxemburgo, no coração do Jardim Europa, em estilo frances primoroso, foi comprada recentemente por algum sucateiro e demolida sem piedade, aonde está o Condephat?), o mau gosto é democratico, da classe A à classe C, não se ve uma floreira, um gesto de simpatia com o entorno, com a vizinhança, com o bairro.

É nesse contexto de campo de concentração urbano que se constroem agora esses paliteiros de 200 apartamentos, no mesmo figurino de péssimo gosto no projeto arquitetonico, na falta de vegetação para amenizar a dureza do concreto, na falta de minimos equipamentos que custariam frações do valor da obra e dariam algum ar de humanidade no entorno dessas futuros cortiços verticais.

Prefeitura, Camara, construtoras, habitantes, todos tem parte da culpa, moram em uma cidade aonde ninguem cuida, só pode virar um imenso cortiço, agora potencializafo pelo crédito imobiliário.

Depois esses mesmos caboclões ricos ou remediados vão a Paris e acham uma linda cidade,pelos seus predios de 400 anos muito bem conservados, pelo verde cuidadosamente mantido, pelas calçadas caprichadas e pelo urbanismo organizado.


FONTE: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/10/29/o-museu-de-horrorer-da-arquitetura-paulista/

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente artigo! É uma vergonha o que está se transformando esta cidade! Prédios e mais prédios substituem espaços verdes raros! Depois que chove "acima do normal", ficamos todos presos na enxurrada de carros e água. Claro, a água não tem pra onde ir!!! E cadê o poder público? Por que não desapropria áreas de interesse social para aumentar as áreas verdes da cidade? Falta vontade política e vergonha na cara! Transporte público virou piada. A cidade está ficando inviável, o que é uma pena...